Gilles Villeneuve viveu no limite, como se pilotasse sua vida da mesma forma audaciosa com que guiava seus carros. Nascido em uma família simples na pequena cidade de Saint‑Jean‑sur‑Richelieu, em 18 de janeiro de 1950, seu talento surgiu logo cedo — da música às pistas, sua paixão pela velocidade falou mais alto, especialmente quando trocou o piano pela motonieve, esporte que o revelou nas neves do Quebec. Nessas primeiras competições, entre tombos e visibilidade comprometida, “os grandes tombos a 160 km/h me ensinaram muito sobre controle […] e me livraram do medo de correr na chuva”

Seu talento bruto chamou a atenção quando derrotou James Hunt em Trois-Rivières, envergando um carro simples em uma corrida dominada por pilotos da F1 — um feito que o conduziu à McLaren, em 1977, e logo depois para a Ferrari, onde Enzo o apadrinhou ao vê-lo como uma encarnação moderna de Nuvolari . Na glória vermelha, Villeneuve revelou-se um piloto de espetáculos extremos e ultrapassagens antológicas, transformando disputas como a memorável batalha contra René Arnoux em Dijon, a mais feroz e intensa da era moderna da Fórmula 1.

Porém, como uma vida intensa geralmente é curta, sua história teve fim em 8 de maio de 1982, durante a classificação para o GP da Bélgica em Zolder. Um duelo não correspondido com Didier Pironi, aliado a um acidente violento com Jochen Mass, terminou tragicamente com seu carro voando a mais de 200 km/h antes de se despedaçar. Villeneuve, ainda preso ao banco, foi arremessado para além da barreira de proteção — e não resistiu aos ferimentos .

A morte de Villeneuve impactou profundamente a comunidade do automobilismo. Sua coragem, calor humano e estilo único o tornaram uma lenda. Na Fórmula 1, poucos receberam tanto respeito por sua habilidade quanto por sua humildade. Niki Lauda declarou: “Ele era o diabo mais louco que já conheci na F1… mas, mesmo assim, um ser humano sensível e adorável” . Seu legado permanece vivo: o circuito de Montreal carregou seu nome, “Salut Gilles” ainda adorna a grid, e museus, estátuas e homenagens imortalizam sua memória no Canadá e em cada curva onde já brilhou .

Villeneuve nunca foi campeão mundial, conquistou seis vitórias, 13 pódios e dois recordes de volta. Ainda assim, permanece entre os maiores — um piloto que transformou o risco em espetáculo, e que segue vivo na memória dos fãs como expressão pura de audácia, paixão e humanidade — uma vida vivida na beira da pista, sobre uma linha tênue entre a glória e o perigo.