
Robert Kubica, que anos atrás esteve prestes a dar vida ao sonho de correr pela equipe de Fórmula 1 da Ferrari, viu esse objetivo ser tragicamente interrompido por um acidente tão severo que quase pôs fim à sua carreira. No entanto, catorze anos depois, o polonês desafiou todas as adversidades para conquistar a vitória mais significativa de sua trajetória: vencer as 24 Horas de Le Mans de 2025 ao volante de um Ferrari com o icônico “Cavallino Rampante”, ao lado de Philip Hanson e Ye Yifei, e tornando-se o primeiro piloto particular a vencer a prova de ponta a ponta em duas décadas – além de derrotar por apenas 14 segundos o australiano Matt Campbell
A história de Kubica é marcada por triunfos e tragédias. Quinze anos antes, ele era um dos nomes mais promissores da Fórmula 1. Depois de uma impressionante vitória no GP do Canadá de 2008 — apenas um ano após se envolver em outro acidente grave no mesmo circuito —, Kubica era presença constante nos pódios pelo BMW Sauber, que se consolidava como rival dos gigantes Ferrari e McLaren. Sua performance chamou a atenção da Renault, com quem correu em 2010 e manteve a trajetória ascendente, acumulando 12 pódios e atraindo o interesse da Ferrari, que o teria contratado para substituir Felipe Massa. Mas então veio o desastre: em 6 de fevereiro de 2011, durante o Ronde di Andora Rally, Kubica sofreu um acidente horrendo que colocou sua vida em risco. A barreira de proteção atravessou o cockpit e o atingiu, e ele foi resgatado horas depois para ser submetido a longas cirurgias — inclusive por pouco não teve o antebraço direito amputado .
O piloto sobreviveu, mas o trauma foi profundo. Ainda assim, sua vontade de voltar às pistas era inquebrantável: menos de 18 meses depois, Kubica já vencia um rali na Itália. Ele seguiu no rally, chegou a competir no WRC2 e, em 2019, voltou à Fórmula 1 com a Williams — um retorno à elite do automobilismo que muitos julgavam impossível. Mesmo assim, foi nas provas de endurance que Kubica encontrou uma nova e definitiva conquista.
A vitória em Le Mans foi disputada com intensidade. Kubica pilotou por quase metade da corrida — 166 das 387 voltas — enfrentando inclusive um problema persistente na transmissão que o obrigou a compensar com técnica nas frenagens e estilo de condução cuidadoso, uma “tapa” no problema, não uma solução, como ele mesmo definiu . Ainda assim, sua persistência foi recompensada com o triunfo — um momento carregado de emoção e assinatura de redenção.
Kubica não apenas conquistou o coração dos fãs — muitos que não acompanhavam automobilismo contaram que foram tocados por sua história —, mas escreveu um dos capítulos mais inspiradores do esporte, um verdadeiro hino à superação humana . Após a corrida, ele afirmou que demorou anos para se recuperar não só fisicamente, mas também psicologicamente, e que “vencer Le Mans é um sentimento especial” .
