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Ken Tyrrell se destacou como um dos últimos grandes construtores independentes na Fórmula 1, mantendo sua equipe por quase três décadas em um ambiente dominado por grandes montadoras. Nascido em 3 de maio de 1924, East Horsley, Surrey, o britânico Robert Kenneth “Ken” Tyrrell,s erviu na RAF durante a Segunda Guerra Mundial e, após o conflito, atuou como comerciante de madeira. Admirado por sua sagacidade, ele iniciou sua trajetória no automobilismo como piloto de Fórmula 3, mas percebendo que seu talento maior estava na gestão, fundou sua própria equipe em 1959, utilizando o galpão da madeireira da família como oficina teve uma carreira modesta como piloto, com participações pouco expressivas em provas não validadas para o campeonato mundial. Esse caminho limitado o levou a criar sua equipe — inicialmente nas categorias inferiores — e foi nesse período que ele descobriu um de seus principais talentos: Jackie Stewart .

A ascensão de Tyrrell à Fórmula 1 veio em 1968, por meio de uma parceria com a Matra. Com apoio técnico e estrutural, ele formou um time que incluía Stewart e os franceses Jean‑Pierre Beltoise e Johnny Servoz‑Gavin. Esse ano marcou o início de uma história de sucesso: Stewart venceu três GPs, conquistou o vice-campeonato e logo no ano seguinte levou o título de pilotos, com Tyrrell também garantindo o campeonato de construtores .

Impulsionado por esse potencial, Tyrrell investiu no desenvolvimento de seu próprio chassi. Em 1970, ainda com um carro alugado (March), já contava com Stewart e um promissor François Cevert. No fim do ano, o primeiro carro construído pela equipe, desenhado por Derek Gardner, estreou demonstrando imediata competitividade, embora uma falha de motor tenha tirado Stewart da vitória nos EUA .

O ano de 1971 marcou o auge da Tyrrell como equipe independente. Com seis vitórias de Stewart e uma de Cevert, a equipe conquistou os campeonatos de pilotos e construtores. Em 1972, embora tenham sido vice-campeões, mantiveram-se dominantes, e em 1973 Stewart alcançou seu bicampeonato mundial com o Tyrrell 006, produção de Derek Gardner. Entretanto, o final daquele ano foi marcado por uma tragédia: durante um treino para o GP dos EUA, François Cevert sofreu um acidente fatal. Profundamente abalado, Stewart anunciou sua aposentadoria, colocando um fim à era gloriosa da equipe.

Apesar da saída de Stewart e Cevert, a Tyrrell ainda se manteve competitiva. Em 1976, apresentou o inovador Tyrrell P34, o único carro de Fórmula 1 de seis rodas a vencer um GP — a Suécia, em dobradinha com Jody Scheckter e Patrick Depailler. Apesar do sucesso inicial, problemas com o abastecimento dos pneus dianteiros pela Goodyear limitaram seu desenvolvimento, e a equipe terminou aquele ano sem vitórias pela primeira vez desde sua criação.

Nos anos seguintes, a Tyrrell tentou resistir aos avanços tecnológicos da categoria e aos crescentes custos de competição. Continuou usando motores aspirados Ford‑Cosworth, mesmo após outras equipes adotarem os mais potentes turbo. Ainda assim, conquistou vitórias isoladas com Michele Alboreto nos Estados Unidos (Las Vegas e Detroit, 1982–83), selando o último triunfo da equipe na F1.

Porém, em 1984 veio o golpe mais duro: a FIA desclassificou a Tyrrell do campeonato após descobrir que seus carros corriam abaixo do peso permitido, usando um polêmico sistema de lastro líquido com esferas de chumbo adicionadas após as corridas. A equipe foi excluída do campeonato, revogando todos os pontos conquistados até então, num dos momentos mais controversos da F1 .

Nos anos seguintes, apesar da introdução dos motores turbo e de tentar renovar o projeto técnico — com Harvey Postlethwaite liderando o design do inovador Tyrrell 019 com “bico tubarão” em 1990 — os resultados foram modestos. Jean Alesi trouxe respiro em resultados com segundas colocações e um pódio, mas o time não conseguiu sustentar o desempenho.

Nos anos 1990, com estruturas cada vez mais onerosas e sem patrocínio sólido, a Tyrrell acumulou resultados discretos até 1998, quando foi vendida ao grupo British American Racing (BAR), marcando o fim da equipe independente e a despedida de Ken Tyrrell da F1 . Em 25 de agosto de 2001, Tyrrell faleceu em sua casa de Surrey, aos 77 anos, vítima de câncer no pâncreas .

O legado de Tyrrell permanece vivo: sua equipe, evoluindo por sucessivas transformações, se tornou Brawn GP, campeã em 2009, e mais tarde a equipe Mercedes, que dominou a F1 na década de 2010 e conquistou múltiplos títulos de pilotos e construtores. Ken Tyrrell será sempre lembrado como um pioneiro que, com talento, coragem e paixão, fez história como o último grande independente da Fórmula 1.